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Mártires de Marrocos
Os Mártires de Marrocos foram missionários da Ordem dos Frades Menores martirizados no Norte da África em 1220.
História
Em 1219, Francisco de Assis enviou em missão para o Marrocos seis frades menores, de nomes Vital, Berardo, Otão sacerdotes, Pedro diácono, Acúrsio e Adjuto leigos.
Partindo da península Itálica, de passagem pelo reino de Aragão, frei Vital adoeceu e ficou. Sob a direção de Berardo, os demais continuaram a sua jornada e alcançaram o Reino de Portugal onde, em Coimbra, foram recebidos pela rainha D. Urraca, esposa de Afonso II de Portugal. Impressionada com a santidade destes frades a rainha pediu-lhes que lhe revelassem a hora da sua morte e se quem morreria primeiro seria ela ou o rei. Os frades então lhe revelaram que ela morreria quando os seus corpos chegassem de Marrocos, imolados em nome de Jesus, e o primeiro dos dois que os visse mortos morreria primeiro. De acordo com a tradição, mais tarde, a rainha, tendo sido a primeira a ver as relíquias dos mártires de volta a Coimbra, veio a ser a primeira a falecer.
De Coimbra, os frades continuaram para Alenquer onde se apresentaram à infanta D. Sancha, filha de Sancho I de Portugal e irmã de D. Afonso II. Esta, vendo-os de hábito, o que dava nas vistas, denunciando-os como pregadores cristãos, arranjou-lhes roupas comuns, pois de outra forma não conseguiriam chegar ao seu destino.
Prosseguindo a sua viagem, após passarem por Lisboa, alcançaram Sevilha, onde se demoraram por uma semana em casa de um cristão. Ao fim desta, voltaram a envergar os seus hábitos e foram à mesquita, justamente em dia de festa islâmica, e começaram a pregar a doutrina de Jesus, denunciando que Maomé não passava de uma idolatria.
Expulsos violentamente da mesquita e tomados por bêbados, decidiram então pregar ao próprio califa. À porta do palácio recebeu-os o filho do sultão que lhes pediu credenciais para poderem falar com o seu pai. Insistindo em que o que tinham a dizer apenas o diriam diante do sultão, foram recebidos mas, após terem se declarado cristãos e apelado ao califa para que se convertesse e abandonasse o Islão, este dispôs-se a matá-los e apenas a intercessão do príncipe evitou o pior. O príncipe, que simpatizara com a simplicidade dos frades, exortou-os por seu turno a converterem-se ao islamismo, sem sucesso.
O taifa de Sevilha, aconselhado pelo seu conselho, decidiu aproveitar a viagem do infante D. Pedro, irmão de Afonso II de Portugal, a Marrocos, que se ia colocar às ordens do miramolim almóada no combate contra outros chefes mouros, com um grupo de soldados cristãos, fugindo assim a alguma represália do rei de Portugal, uma vez que, politicamente, os dois irmãos não se entendiam.
Marrocos
O infante D. Pedro aceitou levar consigo os frades e, em Marrocos, hospedou-os em sua própria casa. Os frades logo foram percorrer as ruas de Marrocos pregando o nome de Jesus e, quando viram aproximar-se o miramolim Aboidil, redobraram a proclamação da mensagem cristã. Vendo-o, o miramolim decretou a sua expulsão da cidade e o exílio dos frades para um país cristão. D. Pedro de novo os recolheu em sua casa e os mandou escoltar para Ceuta, não fossem eles pôr em risco a minoria cristã que poderia sofrer represálias por parte dos muçulmanos.
A meio do percurso, os frades, esquivando-se à vigilância, regressaram a Marrocos, onde reiniciaram a pregação, agora em pleno mercado. Novamente detidos pelas forças do miramolim, permaneceram vinte dias nas masmorras sem comer nem beber. Um conselheiro do rei intercedeu pelos frades e estes foram chamados à sua presença. O rei constatou por si próprio que os frades estavam bem nutridos quando era para estarem mortos de fome.
Novamente libertos, os frades apressavam-se em retomar a sua missão, quando foram detidos pelos próprios cristãos na cidade, que os impediram, com medo que os muçulmanos pudessem começar a matar cristãos. De novo foram levados para Ceuta, e novamente conseguiram escapar e voltar a Marrocos. Desta vez, o próprio Infante D. Pedro, com medo das represálias contra os cristãos obrigou-os a permanecer em sua casa em silêncio. Resolveu então levá-los com um exército de soldados cristãos e muçulmanos com o qual ia combater uma rebelião. No regresso, e vitorioso, o exército teria morrido de sede não fossem os frades fazer brotar da areia do deserto água em abundância para os soldados, para os cavalos e mesmo para armazenarem para a viagem uma vez que fazia três dias que já não tinham água. Saciadas as sedes e enchidos os odres, aquela fonte que Berardo abrira na areia secou de novo.
Este milagre, bem como o êxito na discussão contra um sábio muçulmano de grande prestígio, chegou ao conhecimento do miramolim que ficou espantado com a sabedoria e o poder dos frades. Mas estes, de novo diante do sultão, insistiram na sua mensagem e provocam de novo a sua ira. Decretada mais uma vez a morte deles, o sultão encarregou o seu filho Abosaide de os prender e decapitar. Mas este, que tinha presenciado o milagre do deserto e sido salvo também pelos frades de morrer à sede, arranjou meios de evitar matá-los. Os cinco frades, insistindo em não abandonar a sua pregação, fizeram com que Abosaide os mandasse prender e decidisse cumprir as ordens de seu pai.
Martírio
Interrogados pelo príncipe eles insistiram no seu propósito. Foram açoitados e, atados de mãos e pés, arrastados de um lado para o outro por cavalos. Em seguida, sobre os seus corpos descarnados deixaram cair azeite a ferver, continuando depois a arrastá-los pelo chão, mas desta vez sobre vidros e cacos espalhados pelo chão. Alguns espectadores compadeceram-se e pediram-lhes que se convertam a Maomé para se lhes acabar aquele suplício. Abosaide tentou a seu turno demovê-los. O miramolim tentou-os com dinheiro e com mulheres. Sem nada a fazer, o miramolim concluiu que só a espada poderia calar aqueles homens e, tomando da cimitarra, decapitou-os.
Recorrendo ao suborno. D. Pedro conseguiu resgatar as relíquias e levá-las para Portugal.
Graças e milagres acontecem por intercessão dos santos mártires. Assim, por ter sabido destes acontecimentos é que Fernando de Bulhões, cônego regrante de Santo Agostinho faz-se frade menor tomando o nome de Frei António Santo António de Lisboa. Clara de Assis desejava a graça do martírio que alcançaram aqueles frades e S. Francisco dizia: "agora posso dizer com verdade que tenho cinco verdadeiros frades menores".
FONTE WIKIPÉDIA