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Povos indígenas do Brasil
Os povos indígenas no Brasil incluem um grande número de diferentes grupos étnicos, no total 305 etnias que habitam ou habitaram o território brasileiro, e cujas raízes remontam às Américas desde antes da chegada dos europeus a este continente, em torno de 1500.
Origens dos índios e história
Pesquisas arqueológicas em São Raimundo Nonato, organizadas pela arqueóloga Niède Guidon no interior do Piauí, registram indícios da presença humana datados como anteriores a 10 mil anos. A maioria dos pesquisadores acredita que o povoamento da América do Sul deu-se a partir de 20 mil a.C. Indícios arqueológicos no Brasil apontam para a presença humana em achados datados de 16 mil a.C., de 14.200 a.C. e de 12.770 a.C. em Lagoa Santa MG, Rio Claro SP e Ibicuí RS. Em Lapa Vermelha, Minas Gerais, foi encontrado um verdadeiro cemitério com ossos datados em 12 mil anos, o primeiro dos quais encontrado por Annette Laming-Emperaire na década de 1970 e que foi "batizado" de Luzia e que parecia mais aparentada com os aborígines da Austrália ou com negrito das Ilhas Andaman.
Todos os seres humanos são descendentes dos mesmos antepassados que habitaram a África milênios atrás. A espécie humana surgiu na África, há cerca de 130 mil anos. Por milhares de anos, a África foi o único lugar do mundo onde havia seres humanos. As primeiras pessoas só saíram do Continente Africano há cerca de 50 mil anos e, a partir de então, passaram a se espalhar pelo resto do mundo. Os humanos caminharam, durante milhares de anos, rumo ao norte, até saírem da África e atingirem a região que hoje conhecemos como o Oriente Médio.
Por centenas de anos esse grupo de pessoas viveu no Oriente Médio até que, em algum momento da História, parte desse grupo de pessoas tomou rumos diferentes: alguns seguiram para o oeste, atingindo a Europa e dando origem aos europeus, enquanto outra parcela rumou para o leste, atingindo a Ásia, dando origem aos asiáticos. Os índios das Américas são descendentes desse grupo que seguiu para o leste e povoou a Ásia. Durante a Idade do Gelo, a Ásia era uma região gelada, o que propiciava a formação de grande cobertura de gelo sobre as quais as pessoas podiam caminhar. Naquela época, uma imensa cobertura de gelo existia interligando a Ásia e a América do Norte, no Estreito de Bering. Os seres humanos, ao continuarem migrando rumo ao leste, chegaram àquela região e atravessaram as geleiras, atingindo o que hoje é o estado americano do Alaska. Com o fim da Idade do Gelo, aquela grande cobertura de gelo derreteu e abriu-se o oceano que separa hoje o Continente Asiático do Americano, impedindo novas migrações e separando definitivamente a população que ficou na Ásia da que migrou para a América. Como não havia outra alternativa, essas pessoas continuaram migrando, ao longo de milhares de anos, rumo ao sul, saindo da América do Norte e povoando a América Central e a América do Sul
O Brasil, ao ser formado pela migração de índios, africanos e europeus, tornou-se um ponto de "reencontro" dessas pessoas que, apesar de terem a mesma origem ancestral, ficaram separadas durante milênios devido às migrações para diferentes partes do mundo. Esses milênios de separação criaram diferenças culturais, linguísticas e fenótipas, em decorrência da adaptação de cada grupo a meios ambientais completamente diferentes. Apesar dessas diferenças serem muitas vezes interpretadas como formadoras de "raças" humanas diferentes, do ponto de vista genético o conceito de raça é infundado.
O conceito de índio
a Idade Média, a palavra "índio" era empregada para designar todas as pessoas do Extremo Oriente. Ao chegar às Américas, Cristóvão Colombo acreditou que havia encontrado um novo caminho para as Índias e resolveu chamar os nativos que encontrou de índios. O conceito de "índio" é, portanto, uma invenção europeia. Os habitantes originais das Américas nunca se enxergaram como um povo uno. Pelo contrário, diferentes grupos indígenas nutriam grande animosidade e constantemente guerreavam entre si. Povos indígenas de cultura mais desenvolvida, como os incas, astecas e maias, criaram grandes impérios por meio da conquista e da exploração de povos menos desenvolvidos. Os sacrifícios humanos eram práticas constantes na cultura asteca e maia, e índios de tribos inimigas eram capturados e sacrificados em rituais religiosos que incluíam arrancar o coração da pessoa quando ela ainda estava viva, como oferenda aos deuses. O incas construíram seu império subjugando diversos povos que viviam na região, impondo-lhes sua religião, língua e cultura. No Brasil, os tupis viviam ao longo do litoral quando da chegada dos portugueses, mas séculos atrás eles viviam na região da Amazônia. Com o crescimento populacional na Amazônia, os tupis começaram a migrar para o sul, expulsando e exterminando outros povos indígenas que viviam naquelas áreas e ocupando as regiões que historicamente esses outros povos habitaram. Os tupis eram adeptos da antropofagia e tinham o hábito de comer partes do corpo dos guerreiros vencidos das tribos inimigas, pois na sua cultura acreditavam absorver a força do inimigo ao comê-lo.
Quando os europeus chegaram às Américas encontraram, portanto, não um povo indígena, mas diferentes povos que nutriam animosidade entre si e não se enxergavam como pertencentes a um mesmo povo. Uma "identidade indígena" só foi criada séculos depois, com a chegada dos europeus.
O encontro com os europeus
A imagem do índio se modificou ao longo da História brasileira. Nos primeiros séculos, o índio era retratado como um selvagem, um "quase-animal" que deveria ser domesticado ou derrotado. No século XIX houve uma reviravolta, por meio do "indianismo romântico". O índio passou a ser tratado como o "bom selvagem". Essa concepção adentrou o século XX, trazendo a ideia de que o índio era dono de uma moral intangível, sendo ele uma vítima indefesa da crueldade europeia, sendo seu destino combater os europeus ou se submeter a eles. Nessa concepção, os índios viviam em harmonia nas Américas, até que chegaram os portugueses e semearam guerras, destruíram pessoas, culturas e plantas. Esse discurso até hoje produz eco nos meios popular e escolar brasileiros. Porém, nas últimas décadas, as novas produções históricas têm dado visibilidade a uma outra análise da questão indígena. Sem negar a violência com que muitos europeus trataram os indígenas, a História têm passado a tratar o índio não como uma vítima passiva da colonização europeia, mas também como um agente que interferiu e teve papel fundamental nesse processo.
Sem a ajuda dos índios, a colonização europeia em diversos pontos das Américas teria sido impraticável. Os espanhóis só conquistaram o Império Asteca graças à ajuda de milhares de índios que eram explorados e se aliaram aos espanhóis para se livrarem da dominação asteca. Quando os espanhóis destruíram o Império Inca, muitos índios celebraram o acontecimento e puderam voltar para suas casas, pois era praxe os incas ordenarem a migração forçada de milhares de índios dominados para outras regiões, com o intuito de impedir uniões e rebeliões contra o Imperador. No Brasil, muitos índios se beneficiaram com a chegada dos portugueses. Os índios tupis do litoral viviam envolvidos em guerras com outros índios. Muitos índios se aliaram aos portugueses visando exterminar grupos indígenas inimigos. Caso emblemático foi a Guerra dos Tamoios, travada no Rio de Janeiro nos anos de 1556 e 1557. Os tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a expulsar os franceses da região, e depois contaram com o apoio português para exterminar seus inimigos antigos: os índios tupinambás, ou tamoios. Para um grupo indígena, um outro grupo indígena poderia ser tão "estrangeiro" quanto os portugueses, franceses, espanhóis ou holandeses eram para ele.
Os índios ajudaram os portugueses a escravizar e a exterminar outros índios. As bandeiras, expedições coloniais que visavam a escravização indígena, eram formadas majoritariamente por índios e alguns poucos não índios, denominados de paulistas, eles próprios majoritariamente mestiços de mãe indígena e pai europeu. Em 1605, o padre Jerônimo Rodrigues ficou espantado em Santa Catarina ao ser recebido por índios interessados em vender outros índios, inclusive pessoas da própria família, em troca de roupas e ferramentas. O padre escreveu: "Outro moço vindo aqui onde estávamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem lhe dera, respondeu que vindo pelo navio dera por ela por alguma ferramenta um seu irmão
A aliança entre índios e portugueses proporcionou vantagens para ambos os lados. Os índios se beneficiavam com a presença portuguesa, contando com o seu apoio para exterminar tribos inimigas. As novas tecnologias trazidas pelos portugueses e desconhecidas dos índios provocaram uma revolução e um melhoramento na vida das tribos. Tecnologias como o anzol facilitaram enormente a pesca, o uso do machado diminuiu em várias horas o trabalho dispendido para se cortar coisas, a introdução de novos alimentos, como a banana, a jaca, a manga e a laranja diminuíram o estorvo que era para se obter comida nas tribos ou até mesmo a introdução do cavalo e do cachorro domesticado, que protegia as tribos de ameaças. Para os portugueses também houve benefícios: os índios aliados protegiam as povoações e guiavam os colonos nas suas expedições.
Integração na sociedade brasileira
Os indígenas ficaram muito interessados no modo de vida dos europeus. Os índios brasileiros ainda viviam no Paleolítico, desconheciam tecnologias como a roda, o espelho ou armas bem elaboradas. A maioria dos grupos indígenas, com a exceção das grandes civilizações dos astecas, maias e incas, ainda levavam um meio de vida primitivo quando comparados às populações da Europa, Ásia e África. Isto porque, desde o derretimento da camada de gelo no Estreito de Bering, separando a Ásia da América com um oceano no meio, os habitantes das Américas passaram a viver isolados do resto do mundo. Enquanto europeus, africanos e asiáticos interagiam desde a Antiguidade, fazendo as tecnologias se espalharem por essas regiões por meio desse choque cultural, os índios ficaram confinados por milênios sem interação com as outras populações humanas, sem poder ensinar ou aprender novas técnicas. Portanto, a chegada dos europeus representou um rompimento de milhares de anos de isolamento. A vida junto aos "brancos" era muito atrativa e muitos indígenas abandonavam voluntariamente suas aldeias e iam viver junto com os portugueses. Em muitos casos, os índios nem precisavam sair de suas tribos, pois com a expansão da colonização essas aldeias eram assimiladas dentro da sociedade ocidental. Centros urbanos como Niterói ou Guarulhos eram aldeias indígenas que se transformaram em cidades.
No Brasil, é corriqueiro o senso comum afirmar que os índios foram "exterminados" e atualmente restam alguns poucos representantes dessa população. É inegável que, com a chegada dos europeus, muitos índios morreram por guerras e pela escravidão. Mas, a grande mortalidade indígena se deu pelo contágio involuntário de doenças trazidas pelos europeus, contra as quais os índios não tinham imunidade, por terem vivido durante milênios isolados de outras populações. Porém, o que muitas vezes se ignora no Brasil é que grande parte da população indígena não pereceu, mas foi assimilada dentro da sociedade brasileira. Muitos índios foram viver ao lado de portugueses e africanos, com eles se miscigenaram, dando origem a grande parcela da população brasileira, sendo que seus descendentes não mais se identificam como "índios".
Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala considera o elemento indígena como formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros séculos de contato com os europeus, atribuindo um papel essencial às cunhãs, mulheres nativas, como importante agente contribuinte à colonização portuguesa:
Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Brasil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da Índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebéia, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do norte, que se estabeleceria na América um domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente europeu.A transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua,vinha servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhoa salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão.
É factível que essa miscigenação não foi tão intensa como aquela entre portugueses e africanos e, quando comparado com outros países da América Latina, a contribuição indígena no Brasil é bem menor, mas ela é existente em maior ou em menor grau. Esse processo de assimilação indígena, que já terminou na maior parte do Brasil, ainda está em curso na região Norte. Segundo a Funai, cerca de 25% da população indígena da Amazônia já mora em cidades e só metade desse contingente se considera indígena, mesmo falando uma segunda língua e praticando rituais. Considerando-se todos os brasileiros que têm alguma ascendência indígena, que são vários milhões, a população com ascendência indígena, ao invés de ter diminuído desde 1500, na realidade aumentou dezenas de vezes desde a chegada dos portugueses e a consequente multiplicação da população brasileira por meio da miscigenação entre índios, europeus e africanos.
Conflitos
Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no território Brasileiro, mais de mil povos, sendo cinco milhões de indígenas Outras estimativas variam entre 2 milhões e meio de indígenas em 1500 a até 6 milhões.
Durante o século XIX, com os avanços em epidemiologia, casos documentados começaram a aparecer, de brasileiros usando epidemias de varíola como arma biológica contra os índios. Um caso "clássico", segundo antropólogo Mércio Pereira Gomes, é o da vila de Caxias, no Sul do Maranhão, por volta de 1816. Fazendeiros, para conseguir mais terras, resolveram "presentear" os índios timbira com roupas de pessoas infectadas pela doença que normalmente são queimadas para evitar contaminação. Os índios levaram as roupas para as aldeias e logo os fazendeiros tinham muito mais terra livre para a criação de gado. Casos similares ocorreram por toda América do Sul As "doenças do homem branco" ainda afetam tribos indígenas no Amazonas.
Povos indígenas emergentes
A partir das últimas décadas do século XX, aparecem novas etnias quando populações miscigenadas reivindicam a condição de povo indígena. Isto ocorre principalmente no nordeste brasileiro. São exemplos desse processo:
Náua, no Parque Nacional da Serra do Divisor Acre
Tupinambá, Matipu, Apium e um grupo Munduruku desconhecido, na região do Alto Rio Tapajós Pará
Kaxixó, na região de Martinho Campos e Pompeu, e Aranã, no Vale do Jequitinhonha Minas Gerais
Kariri, Kalabaça, Tabajara, Tapeba, Pitaguary, Tremembé, Kanindé no Ceará.
Tupinambá, em Olivença, e Tumbalalá, em Abaré e Curaçá Bahia
Kalankó, em Pariconha, e Karuazu, em Água Branca Alagoas
Pipipã, em Ibimirim Pernambuco
Cultura
Há grande diversidade cultural entre os povos indígenas no Brasil, mas há também características comuns:
A habitação coletiva, com as casas dispostas em relação a um espaço cerimonial que pode ser no centro ou não.Em cada habitação morava de setenta a oitenta casais com suas famílias que, à noite, acendiam fogueiras e dormiam em redes. Quando a aldeia ficava não muito longe das dos inimigos era cercada por duas ou três paliçadas de troncos de árvores. Entre as paliçadas fossos eram cavados e no fundo eram fincadas estacas pontiagudas. A parte superior de cada fosso era disfarçada com ramos e folhas. Normalmente ficavam em cada aldeia até que as palhas que cobriam as habitações apodreciam, o que levava de três a quatro anos. Algumas tribos, como os aimorés, não construiam aldeias. Simplesmente limpavam uma área e dormiam debaixo das árvores mantendo, à noite, fogueiras acesas. Deitavam-se com os pés voltados para o fogo que era protegido, em noites de chuva, por couro de veado sustentado por quatro estacas.
A vida cerimonial como base da cultura de cada grupo, com as festas que reúnem pessoas de outras aldeias, os ritos de passagem dos adolescentes de ambos os sexos, os rituais de cura e outros;
O amplo conhecimento da produção de bebidas fermentadas a partir de tubérculos, raízes, folhas, sementes e frutos como o abatiui milho, beeutingui farinha de mandioca, cachiri mandioca, batata doce ou inhame, cacimacaxera mandioca, caiçuma mandioca e frutos, caoi fruto de Acaijba, catimpuera milho, caxiri buriti, caviracaru mandioca, caxiri mandioca, '''cauim' nome genérico para várias bebidas fermentadas à base de milho, mandioca, cajú, batata, amendoim, banana, ananás, etc. eivir farinha de milho, giroba mandioca, guariba mandiocaba ou mandioca doce, ivir milho, jetiuy batata, manavy ananás, mocororó arroz ou mandioca, nanaí abacaxi, oloniti milho, pacobi frutos de pacobete e pacobuçu, pacouy mandioca, pajaurú beiju, pajuarí frutos fermentados, tarubá beiju, tepiocuy beijú, tiborna mandioca, tikira beijú, tipiaci farinha de mandioca, tucanaíra mel de abelhas, saburá de favos e água,
A arte como parte da vida diária, encontrada nos potes, nas redes e esteiras, nos bancos para homens e mulheres, e na pintura corporal, sempre presente nos homens;
A educação das crianças era compartilhada por todos os habitantes da aldeia. A mãe amamentava o filho até aos oito anos, conquanto não tivesse outro no período. A criança era carregada o tempo todo pela mãe ou pelo pai. Se fosse menino, o pai lhe ensinava logo cedo a manejar o arco e a flecha, a construir balaios e outras lidas. Quando menina, a mãe a introduzia no míster de fiar algodão, tecer redes e fabricar enfeites para o cabelo.
Quanto à família, esta podia ser monogâmica ou poligâmica.
Deixaram forte herança na culinária brasileira, com pratos à base de mandioca, milho, guaraná e palmito, tais como pamonha e biju; a arte indígena também foi assimilada à brasileira em objetos; uso de redes e jangadas, canoa, armadilhas de caça e pesca; no vocabulário: em topônimos como Curitiba, Piauí etc., em nomes de frutas nativas ou de animais como caju, jacaré, abacaxi, tatu. E deixaram no brasileiro hábitos como o uso do tabaco e o costume do banho diário.
Da culinária indígena à base de mandioca foram adotadas a farinha fina, de carimã, o mingau e o beiju, também chamado de tapioca. O beiju simples é um bolo de massa fresca, úmida, passado pela urupema peneira de fibras vegetais para formar grumos, que devido ao calor ficam ligados; o beiju-ticanga, feito de massa de mandioca mole e seca ao sol; o beijuaço, redondo, feito como o beiju-ticanga, mas seco no forno; o beijucica feito de massa de macaxeira, em grumos bem finos; o beiju de tapioca, de tapioca umidecida, saindo da urupema em pequeninos grumos e quando pronto é enrolado; o caribé, que é o beijuaço posto de molho e reduzido a massa que, quando água é acrescentada, forma um tipo de mingau; o curadá, um beiju grande, feito de tapioca umidecida, em grumos maiores, levando castanha crua, depois sendo enrolado.
Dos alimentos vegetais herdados dos indígenas, além da mandioca e do milho incluem-se a batata-doce, cará, pinhão, cacau e amendoim. O caruru, a serralha e o palmito foram também introduzidos por eles. Quanto a frutos, os mais comuns são o mamão, o araçá e o caju, embora haja dezenas de outros hoje pouco comuns ou de conhecimento apenas de pessoas que vivem em regiões onde eles ainda ocorrem como: abajeru, amaitim, apé, araticum, azamboa, bacaba, bacupari, bacuri, caiuia, camboim, cambucá, camichã, curuanha, curuiri, guti, gravatá, grumixama, guajirí, guapuronga, embaúba, jataí, mocurí, mucujé, mundururu, murici, pajurá, penão, ubaia, ubucaba e umari. Outros vegetais introduzidos pelos indígenas foram fibras como o algodão, o tucum e o guaratá bravo; para fazer vassouras, a peipeçaba piaçava ou piaçaba; gêneros de abóbaras para produzir cabaças, usadas para armazenar água ou farinha. Dos alimentos derivados de animais destacam-se os de tartarugas e seus ovos como o arabu, o abunã, o mujanguê e o paxicá. Provenientes de peixes: paçoca e o moquém também podem ser de outros animais, o piracuí, a moqueca indígena e a mixira.
No Brasil colonial os portugueses tiveram como aliados os índios aldeados, os quais se tornaram súditos da Coroa.
Estatuto do Índio e legislação
O Serviço de Proteção ao Índio SPI foi criado em 1910. O Estatuto do Índio ainda determina que "os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar". Apesar dos diversos decretos, o índio brasileiro tem que se integrar na cultura brasileira para requerer emancipação.
Dia do Índio
O Dia do Índio, 19 de abril, foi criado pelo presidente Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540 de 1943, e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Durante este congresso foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem como função zelar pelos direitos dos indígenas na América. O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas após a intervenção do Marechal Rondon apresentou sua adesão e instituiu o Dia do Índio no dia 19 de abril.
Organizações e associações indígenas
As associações e organizações indígenas surgiram, no Brasil, ainda durante o século XX, nos anos 80. Entre os organismos e associações nativas que têm como objetivo estatutário a defesa dos direitos humanos dos povos indígenas incluem-se o Warã Instituto Indígena Brasileiro e o GRUMIN. Com o objetivo de preservar e difundir a cultura indígena e facilitar o acesso à informação e comunicação entre as diferentes nações indígenas foi fundado o Índios online.
Os povos indígenas do Brasil
A denominação mais conhecida das várias etnias não é quase nunca a forma como seus membros se referem a si mesmos, e sim o nome dado a ela pelos brancos ou por outras etnias, muitas vezes inimigas, que os chamavam de forma depreciativa, como é o caso dos caiapós.
Entre as primeiras obras publicadas sobre os povos indígenas brasileiros, no século XVI, encontram-se os livros escritos pelo mercenário alemão Hans Staden, pelo missionário francês Jean de Léry e pelo historiador português Pero de Magalhães Gândavo
Frei Vicente do Salvador 1564-1635 no seu História do Brasil 1500-1627 classificou os indígenas entre os mais bárbaros, os Tapuias, com diversas nações, línguas e que viviam em constante guerra entre eles. Os menos bárbaros incluiam os Carijós que viviam entre São Vicente até o Rio da Prata, os Tamoios no Rio de Janeiro, os Tupinambás na Bahia, os Amaupiras no rio São Francisco e os Potiguaras de Pernambuco até o rio Amazonas, todos falando a mema língua.
O primeiro inventário dos nativos brasileiros só foi feito em 1884, pelo viajante alemão Karl von den Steinen, que registrou a presença de quatro grupos ou nações indígenas, de acordo com as suas línguas: tupis-guaranis, jê ou tapuias, nuaruaques ou maipurés e caraíbas ou caribas. Von den Steinen também assinala quatro grupos linguísticos: tupi, macro-j, caribe e aruaque.
Terras indígenas
A definição de áreas de proteção às comunidades indígenas foram lideradas por Orlando Villas Bôas que em 1941 lançou a expedição chamada Roncador-Xingu. Em 1961 foi criada a primeira reserva, o Parque Indígena do Xingu com forte atuação de Villas Bôas, seus irmãos Leonardo, Cláudio, Marechal Rondon, Darcy Ribeiro, entre outros, para que a natureza, os povos nativos da região, suas culturas e costumes fossem preservados. O modelo de criação das reservas indígenas mostrou-se como um dos únicos meios para que a cultura, os povos pré-coloniais remanescentes e mesmo a natureza sejam preservados nessas reservas. Em 1967 foi criada a Fundação Nacional do Índio FUNAI, que passou a definir políticas de proteção às comunidades indígenas brasileiras.
A demarcação de reservas indígenas é muitas vezes cercada de críticas favoráveis e desfavoráveis por vários setores da mídia e pela população afetada. O modelo das reservas indígenas demarcadas pela FUNAI difere no modelo norte-americano onde as terras passam a pertencer aos povos indígenas. No Brasil as reservas indígenas demarcadas pela FUNAI pertencem ao governo brasileiro para usufruto vitalício dos índios, não havendo portanto como associá-las a uma perda de soberania. Uma crítica comum sobre as reservas indígenas brasileiras considera a atuação de ONGs nacionais e internacionais junto às comunidades indígenas sem que se tenha o conhecimento preciso da natureza da atuação dessas organizações. Nesse sentido controles mais rígidos sobre a atuação das ONGs junto às comunidades indígenas estão sendo estudados.
FONTE WIKIPÉDIA